sexta-feira, 6 de julho de 2012



Os Desenhos e Bartolomeu

Introdução
O texto de A. E. Maia do Amaral, tem um conteúdo histórico valioso; no caso, pretende buscar a verdade sobre um dos inventos de Bartolomeu, o aeróstato, especialmente sobre uma de suas representações gráficas. Tratava-se de um dos problemas relacionados ao invento de Bartolomeu, visto que tal invento foi tratado como mistério. Quantas versões haveria de tal invento de Bartolomeu? Qual era a correta? Pelas indicações de alguns autores, testemunhas oculares, tais representações do aeróstato de Bartolomeu não passavam de uma pista falsa: Bartolomeu construiu um pequeno globo, um protótipo de um invento que seria maior. Mas, como faz parte da história de Bartolomeu tais representações não fidedignas, cabe tomar conhecimento do assunto.


















Uma vez que estamos no ano Gusmão, pedimos a António Eugénio Maia do Amaral, Director Adjunto da Biblioteca da Universidade de Coimbra, um depoimento sobre as imagens que circulam do invento do luso-brasileiro, que foi estudante da Universidade de Coimbra:

Não foi inocente a escolha desta imagem para ilustrar o “post” de Carlos Fiolhais sobre o próximo centenário da experiência aerostática de Bartolomeu de Gusmão: proveniente de um manuscrito setecentista da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, julgo que este desenho é a representação mais antiga e, porventura, mais fidedigna da famosa “Passarola”, ou seja, o projecto de uma “machina voadora” em tamanho real.

As gravuras que se tornaram mais conhecidas são muito fantasiosas (quiçá posteriores) e o desenho conservado na Biblioteca Vaticana, publicado em 1917 , pertence à mesma “família” destas gravuras que – de alguma forma – só desacreditaram a experiência do “Padre Voador”.


A publicação desta imagem na Internet foi uma estratégia nossa para problematizar a representação daquele objecto, o nosso contributo para chamar a atenção para uma experiência científica portuguesa extraordinária e ainda mal conhecida. Lançá-la na rede, e dizendo que pode ser usada livremente, foi a forma que a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra encontrou para garantir que ela não será esquecida. Publicada já três vezes em papel, pelo menos, parece indesmentível que esta imagem ainda era praticamente desconhecida até ser divulgada aqui no “blog”. Com efeito, só após essa publicação é que começa agora a ser usada e solicitada: para uma revista científica brasileira, para um museu da aviação, para a exposição que se prepara no Ministério da Cultura português, etc.

Penso que as bibliotecas hoje podem e devem ser mais activas na promoção dos seus “tesouros”, já não se podem limitar a catalogar muito bem os seus fundos e a esperar que alguém os venha encontrar.

O desenho encontrava-se solto (nunca terá sido colado) na folha 247v. do Ms. 342 junto de uma cópia manuscrita do texto do “Manifesto sumario para os que ignorão poderse navegar pello elemento do Ar” (cerca de 1709) e terá desaparecido algures entre 1935 e 1945, já não se encontrando descrito no Catálogo de Manuscritos, publicado nesta data.

A atestar que, um dia, existiu de facto estão as suas várias reproduções, publicadas desde 1868. A primeira vez em:

SIMÕES, Augusto Filipe - A invenção dos aeróstatos reinvindicada... Évora: Typographia da Folha do Sul, 1868. P. 76-77.

Depois, numa pequena vinheta de:

FARIA, Visconde - Reproduction fac-similé d'un dessin à la plume de sa description et de la pétition adressée au Jean V. (de Portugal) en langue latine et en écriture contemporaine (1709) retrouvés récemment dans les archives du Vatican... - [S.l. : s.n.], 1917 (Lausanne : Impr. Réunies S. A.. - 17 p. : il. ; 29 cm. Disponível na Internet aqui.

E, mais tarde, reproduzida na capa de uma obra editada pela Biblioteca Geral:

DESCRIÇÃO burlesca dum imaginário aeróstato e outras sátiras ao Pe Bartolomeu Lourenço de Gusmão. Coimbra : Coimbra Editora, 1935.

Esperamos que a lista seja rapidamente acrescentada de novas publicações. A sua reprodução é livre de direitos, e o desejo da Biblioteca Geral é o de que seja reproduzida muitas vezes, até para contrariar a visão esterotipada que se tem ainda do invento do Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão.

A. E. Maia do Amaral

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